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Museu Guerra Junqueiro

Quarteto Douro - Partilha do Tempo

Museu Fora da Caixa

FRANZ SCHUBERT – Quarteto em lá menor D 804, “Rosamunde”

I. Allegro ma non troppo
II. Andante
III. Minuetto. Allegretto
IV. Allegro moderato

LUDWIG v. BEETHOVEN – Quarteto em Fá Maior, op. 18 nr. 1

I. Allegro com brio
II. Adagio affettuoso ed appassionato
III. Scherzo. Allegro molto
IV. Allegro

QUARTETO DOURO

RADU UNGUREANU1º Violino
GASPAR SANTOS2º Violino
JEAN LOUP LECOMTEViola
DINIS LECOMTEVioloncelo

O Quarteto Douro propõe, para o concerto desta tarde, duas grandes obras-primas, que adquiriram o definitivo reconhecimento do público durante a segunda metade do século XIX, graças principalmente aos quartetos Hellmesberger e Joachim. Este período coincide com o da vida e actividade do poeta e político Guerra Junqueiro, enquanto que a problemática desenvolvida nestas duas obras esteve igualmente presente nas preocupações literárias do nosso anfitrião.

A apresentação do Quarteto em lá menor marcou um dos poucos sucessos alcançados por Schubert durante a sua vida. As melodias, buscadas nas próprias canções (Lieder), constituem o material essencial desta obra. O tema principal do segundo andamento, recuperado duma ópera falida, “Rosamunde”, acabou por dar o nome ao quarteto.

O ambiente do 1º andamento é fixado directamente, através duma invulgar fórmula de acompanhamento. De imediato, um longo e magnífico tema impõe o sentimento do inelutável, que se levantará até as zonas celestiais, no registo agudo do violino. O 2º tema, de contornos ascendentes, contrasta com o motivo fatídico do 1º tema e procura instaurar o optimismo e a confiança.

O 2º andamento desenrola-se dentro da inconfundível atmosfera de intimidade cameral schubertiana, interrompida inesperadamente por um episódio dramático, de cariz beethoveniana. O tema conclusivo alcança o sublime, exprimindo ideias profundas com meios simples.

O minuete retoma o tom principal da obra, para realizar uma belíssima atmosfera melancólica. A parte central, Trio, traz uma luz de esperança, situação que se vai impor definitivamente no andamento final, com a sua contagiante alegria. A história contada por Beethoven, no seu Quarteto em Fá Maior, op. 18 nº 1, é bastante diferente. A linguagem transmite, desta vez, clareza e firmeza.

O clássico confronto de ideias contrastantes, dominante no 1º andamento, tem a função de preparar a atmosfera carregada do 2º andamento, dominada pela expressão intensa do tema principal.

Foi um dos raros momentos da sua vida, no qual Beethoven confessou algum “programa” associado a sua música, indicando a “Cena do Túmulo” de Romeu e Julieta de Shakespeare. Num dos esboços para este quarteto, encontrou-se escrito: “os últimos suspiros…”.

Para alcançar a alegria e luz do 4º andamento, Beethoven interpõe um Scherzo, repleto de humor e surpresas. E, antes de chegar ao imparável e brilhante momento final, vai introduzir mais alguns momentos dramáticos, para que a conquista da alegria não seja fácil.

Para concluir, vale a pena lembrar as palavras de Guerra Junqueiro do poema “Oração à Luz”:

“Claro mistério
Do azul etéreo!
Sonho sidéreo!
Luz!”

Radu Ungureanu